Coragem demonstra Ana Gomes ao dizer
«Eu sinto culpa, por nunca me ter interessado pelas implicações das mudanças sociais na degradação do ensino em Portugal, por nunca me ter incomodado em demasiada com a qualidade política de quem ficava com a pasta da Educação a seu cargo em sucessivos governos. E sinto ainda mais culpa por ter obrigação de ter ouvido professores e alunos na familia e nas amizades mais próximas.»
É "doloroso" ver deputados socialistas nos diferentes fóruns a engasgarem-se com os argumentos, a não ter sobre os factos outra coisa a dizer que não a cassete da senhora ministra, as vezes que já a ouvimos, a propósito de tudo e de nada... Esses mesmos que há tempos acusaram o ME de falta de diálogo com os deputados, mas recusaram a reapreciação parlamentar de medidas tomadas, como se a sua decisão dependesse desse diálogo. É lembrar o caso do «estatuto do aluno»...
É esta verdade que ressalta de tudo quando se experiencia, esta "tara" de que todos sabem de tudo e podem opinar sem saber, podem simplificar o que de mais complexo e duro existe, e foi sobre este pressuposto, este lugar comum, que se operou esta reforma. Claro que a dureza da acção pode render votos, claro que explorar emocionalmente a aversão aos professores pode dar votos, desautorizá-los, "pô-los no lugar" renderá votos. Primeiro, pode não ser bem assim, mas, acima de tudo, não é assim que se pode abordar uma realidade tão complexa e díspar. Os preconceitos contra os professores e sindicatos, e a muleta da CONFAP, foram para o ME um empecilho ao coerente desenho das medidas e um sério obstáculo à sua negociação e implementação, e o tempo que se poupou no cálculo e avaliação das políticas, perder-se-à inevitavelmente na correcção póstuma das suas nefastas implicações.
P.S.
Bem sabemos que por vezes o óptimo é inimigo do bom, mas esta verdade não pode servir para justificar o fraco ou meramente sofrível.