Nos que até concordamos com as aulas de substituição. Confessamos que quando nos enfiaram numa sala com garotos do 7º ano ficámos um pouco preocupados e a questionar a utilidade daquele procedimento, mas também percebemos que aquela era uma solução para manter num quadro de razoabilidade o controlo sobre alunos aos quais faltavam as ferramentas essenciais para o sucesso na escola. Não nos saímos mal, mas não nos vangloriamos desse trabalho. Afinal, as boas ideias precisa, de ser burladas e se hoje não há contestação tal se deve à contestação inicial dos professores que obrigaram a tutela a parametrizar essas aulas de substituição e a enquadrar esses objectivos na função docente. Pior seria se os professores não se questionassem. Claro que também sabemos que numa Escola a sério tais aulas não fazem sentido no ensino secundário. Ficamos satisfeitos quando vemos os garoto(a)s do secundário que vão para a biblioteca da Escola trabalhar. 'Tão a ver uma boa medida, as Bibliotecas, que ficam desertas porque o tempo dos intervalos não chega para nada.... Parece que o ócio se converteu de repente num mal maior da sociedade e que de repente esse espaço de remissão de cada um a si mesmo, esse espaço de ressonância de tudo quanto merece ser pensado e reflectido novamente não mereça ser vivido e valorizado. Há sempre uma maçã que no ócio bate na tola e acorda alguém para uma lei fundamental, um “Eureka” que brota do banho para estabelecer um princípio... A socialização, a partilha de projectos, o estudo individual e em grupo que espontaneamente os alunos do secundário exigem são factores determinantes da construção responsável e sadia da sua personalidade, na construção livre e autónoma da sua individualidade e imagem. Em vez disso, aquele filme em DVD... Mas pensar assim, é estar contra as aulas de substituição? Não, apenas dizer que elas não são a salvação do sistema e que como tudo na vida tem aspectos bons e maus...
Se pensarem bem, uma escola a tempo inteiro é uma contradição nos termos... A única “coisa” a tempo inteiro é a vida e tudo o resto se relativiza em função dela. E o resto é tão importante como a escola que é hoje em dia uma realidade muito diferente da imagem sobre a qual se desenham e tomam estas medidas. Mas é verdade, também não nos opusemos, não estivemos contra, porque reconhecemos que para alguns pais é a forma de saberem os filhos entregues a alguém de confiança quando os seus afazeres profissionais não lhes permite a guarda e a convivência a que anseiam; para outros é a oportunidade de poderem fruir livremente dos seus dias porque a chatice de aturar os pirralhos foi diligentemente delegada em outros. Entretanto, o relevo fundamental a dar a certas transformações da escola e dos seus processos vão-se perdendo nestas “minudências” quando não se reduzem apenas a certos “gadgets” tecnológicos!
Afinal, somos contra o que defendemos e opomo-nos ao que achamos bem. Ter ideias diferentes, ter opinião parece ser o mesmo que oposição! Ainda bem, que de ora em diante vamos prescindir desse cuidado de clarificação.
Afinal pensavamos que se combatia o novo modelo de avaliação docente (ADD) por razões, por princípios. Também por questões pragmáticas, por uma constatação pura e simples de incapacidade de operacionalização do dito. Mas não está aí o cerne da questão, embora opinantes com fartura se esforcem por reduzir a contenda a esse ponto. Há questões éticas, questões de justiça, incorrecções, perversões. Nós até compreendemos que os pais estejam contra o ADD por causa dos reflexos negativos que esse processo possa ter na vida dos alunos, independentemente de se saber ou não que esse processo é, na sua raíz, imoral e degradante para os professores. Afinal que interessa isso, se a Escola é a tempo inteiro!
Não é por uma questão burocrática que o modelo de ADD falha, mas por razões sérias que parece nenhum opinante sobre a matéria é capaz de descortinar. De tudo quanto se vai vendo e lendo percebe-se um ponto de partida inicial que revela que a maioria dos opinantes nada sabia da Escola e compunham uma opinião a partir dos lugares comuns ou do discurso oficial. Depois de desqualificar e desautorizar os professores qualquer mancha se torna visível, qualquer crítica se torna justa. Agora, à medida que a realidade se vai impondo contra as tiradas “ideológicas”, muitos vão abandonando, de “rabo entre as pernas” a guarda pretoriana da ministra, e vão inflectindo, mais por moda que por convicção, o seu discurso, manifestando, porém, as mesmas falhas, as mesmas gralhas. Primeiro funcionaram como a “muralha de aço” e agora capitulam ante a contestação ... Muitos dos que por aí falam a favor ou contra os professores ou contra ou a favor da ministra não devem ter lido a sério o documento legal que regula a ADD, nem têm uma ideia concreta do que é a escola ou do que signifique tão só “aprendizagem”. Na sua maioria são capazes de colocar os seus filhos no ensino privado, sem saberem que a condição fundamental do seu sucesso são aquelas ferramentas que os professores exigem mas que são negadas ao ensino público: autonomia. Chavão enorme, sem dúvida, projecto maior do nado-morto 115/A, mas para dotar a escola dessa garantia de sucesso não vemos nem coragem nem inflexibilidade nela em ninguém para levar essa revolução em frente! Nem ninguém exterior à escola a exigir a sua aplicação.
Aos professores não resta outra postura que não seja a de manter a sua atitude: compreender quem opina sem saber, mas persistir na sua atitude crítica em favor da escola que bem conhecem e da qualidade das aprendizagens que é afinal o “core” da sua profissão. E já agora, esperar que alguém entenda que mesmo quando se tem uma atitude crítica tal não signifique, por esse facto, que se está contra. O maior erro que se tem cometido é pensar a classe docente como clones de partidos ou de sindicatos, esquecendo – ou lembrando apenas quando lhes convém – que na escola se encontra uma parte importante da massa crítica. E esses erros de avaliação saem caros a quem nessa ideias aposta como única estratégia de combate
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