Deixando de lado qualquer hipótese de entendimento quanto ao que com «recuo» se queira dizer ou quanto ao que se tem passado seja qualquer outra coisa que não «recuo», assinalamos uma certa mudança de estilo, uma diluição de tensão, um fazer das pazes entre quem ainda há bem pouco tempo não se imaginaria. Tudo bem, guerra às ideias e paz entre os homens dizia homem sábio não vai há muito tempo, mas, sinceramente, coisas há que deixam cravado na consciência um certo questionamento.
Como foi possível chegar tão longe, como é possível ver alguém que horas antes, dias antes, afirmava uma coisa e depois, como se de um passo de mágica de tratasse, bem dizer, se não o contrário, pelo menos, que tudo vai ser o contrário do que acabara de dizer?
Afinal os professores tinham razões! Foi necessário convertê-la em números para que muito acordassem do torpor em que intelectualmente vegetavam sobre o assunto ou se esqueceram da imprescindível dialéctica a que obedece a formação consistente das ideias que aprenderam nos livros ou transplantaram de conversas de café. É que não é possível tapar o Sol com um Pedreira!
É claro que o governo recuou, e só não o reconhece quem tem andado distraído ou quem não percebeu o sentido das declarações dos governantes ante da "manif". Adia a avaliação dos professore este ano e lá para 2009 introduz as alterações. Isto é, na prática, e como aconselhou A. Vitorino, ano e meio de uma experimentação sui generis. A ser assim, na «mouche»!
Para quem operava com o pressuposto da diabolização da Fenprof e ver nos media a mesma Fenprof a sair das negociações com evidentes ganhos... temos que concordar, é obra, dificilmente alguém pode fazer pior!
Não se percebe é a razão pela qual José Socrates insiste em manter no seu governo pessoas às quais falta a necessária autoridade para governar? Não percebemos como podem ser equilibradas e úteis para o Estado as negociações próximas, que se anunciam, entre pessoas com um capital de autoridade tão diverso. Este ministério pulverizou essa relação de confiança, degradou alguns indices de motivação, fragmentou, dividiu os docentes na sua carreira e tarefa fundamentais. É esta fragmentação, esta divisão artificial que envenena o sentido das reformas da educação, ao tentar converter principalmente em responsabilidade individual aquilo que é o resultado de um Todo. Mas, quanto a isso, adiante, já que o Governo pensa ver aí a solução ...
Colocar nesta fase de pacificação outros protagonistas, com um discurso claro, objectivos bem definidos, um novo programa de acção dentro dos objectivos maiores do Governo -- que são legítimos e inquestionáveis --, não retirava autoridade ao Primeiro Ministro. Bem pelo contrário.
O essencial da acção do Governo não pode ser ofuscada por ineptos políticos num determinado sector.