24 dezembro, 2007

Deve e Haver.

Se com o fim de ano à vista alguém fizer com justiça o elenco daqueles que durante este ano saíram vencedores temos que forçosamente colocar em lugar cimeiro José Sócrates.
Em primeiro lugar pela inegável qualidade que colocou na Presidência da Comunidade Europeia. Lutar, e conseguir, para que internamente a comunidade se reformasse para externamente ter mais poder e credibilidade foi objectivo essencial e, por isso, a plenitude de sucesso nesse aspecto. E daí a segunda marca: a afirmação da comunidade como bloco alternativo, que não só económico mas de princípios, aos blocos tradicionais. As cimeiras CE-Africa e CE-Brasil são momentos de afirmação de vigor da Europa, mas também de visão estratégica da Presidência Portuguesa.
Se externamente a sua prestação foi de sucesso, não podemos esquecer que internamente obteve sucesso em áreas fundamentais como o controlo do défice. Podemos contestar os métodos e aligeirar a importância dos resultados, mas a verdade e que a transparência -- se isso fo(sse)r possível -- nas contas publicas é fundamental para uma economia saudável.
Podemos, porém, afirmar, sem faltar a verdade, que quem se prontificou a reformar o Estado, esse sucesso é insignificante. Pese embora a importância da área a que se reporta, a ser verdade, esse sucesso é bem pouco, até porque os indicadores e rankings do desempenho dos portugueses continuam a piorar...
Contudo a produção reformista continua e não é desprezível a intenção. O que nos parece é que gira em rédea solta e fugiu-lhe do controlo. Explicando. Qualquer português percebe a necessidade de reformular o Estado e de o colocar ao serviço dos cidadãos de acordo com as suas necessidades e os novos desafios e oportunidades, mas dentro do quadro das possibilidades... Qualquer português percebe os princípios estruturantes dessa reforma, mesmo que o não confesse, incidindo num plano de economia de custos e responsabilização dos agentes para ampliar a qualidade dos serviços. O programa «Novas Oportunidades» e um exemplo de sucesso dessas políticas, ou o apoio a natalidade ou maternidade...
Bem sabemos que alguém já chamou "provinciano" a quem critica José Sócrates por ter «desprezado» o país em favor da Comunidade Europeia, como se em tal reparo se pretendesse a desvalorização dessa realidade nova que é a comunidade. Não, quem assim pensa está redondamente enganado, como «redondamente» enganados, equivocados ou deslumbrados com o poder estão todos quantos não estiveram na política interna a altura de José Sócrates. Deus nos livre desses provincianos que não sabemos onde penduram o pote!
Seria necessário para a (1) reorganização, por exemplo, do Ministério da Agricultura «tamanha» pressa que se traduziu num bloqueio do processo do qual tarde e mal se sairá... (2) Seria necessária a cena «trágica-cómica» da localização do novo aeroporto... Seria necessário para (3) aumentar a responsabilização das escolas essas inventonas do estatuto e trapalhadas consequentes...(4) ...

José Sócrates já deu provas de não governar para as sondagens nem para as eleições e também, neste aspecto, honra lhe seja feita. Mas se assim for, e por mais contraditória que pareça esta opinião, no limite, tal acto parece que mais se aproxima da tirania do que dela se afasta, já que e impensável governar em democracia -- numa democracia de cariz liberal, bem entendido -- sem considerar a vontade daqueles para quem se governa, afinal os únicos destinatários da governação, os únicos doadores de sentido a acção politica.

Romanticamente poderíamos sugerir governar para os mais pobres, os mais desfavorecidos, para aqueles que não tem voz, sem cuidar de beneficiar outros julgando -- e dizer «ingenuamente» será demais -- que deles é que brota a salvação destes. Pragmaticamente poderíamos desejar apenas que em 2008, liberto da pressão de gerir um influente bloco, se preocupe em limar as arestas que alguns dos seus ministros pacientemente se «divertiram» a afiar. E substitui-los. Nada o exige, bem sabemos, não precisa de o fazer, dizem os entediantes entendidos. Mas se é de homem assumir na plenitude as culpas da sua governação, não parece respeitoso para com o cidadão obriga-lo "gramar" por mais tempo com a arrogância de governantes em quem «respeitosamente» e com razões de peso já perdeu a consideração politica. É, a nosso ver, uma erosão de autoridade perfeitamente escusada!

E voltando a esses rankings que nos incomodam, lembramos o que aqui se disse: é que a grande diferença está na atitude: uns, conservadores, marcadamente, "geneticamente", compassivos e complacentes com essas diferenças; outros, "geneticamente" interventivos e incomodados com essas marcas, com estes resultados. E, já agora, perdoem a ousadia de notar que em tantos exemplos de sucesso e que se quer imitar em Portugal, a solução pode não estar apenas no engenho da medida -- que engenhosos também os há por cá, ora essa -- mas tão só na qualidade dos governantes que implementam essas medidas que produzem o sucesso. Bem sabemos que ele diz que tem os melhores, mas aí não podemos fazer nada!

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