05 março, 2007

Abandono!

Uma nota de última página hoje apresentada num jornal de grande tiragem nacional vem, de mansinho, colocar o dedo na ferida. Falava dessa saga política orientada por critérios económicos (reparem que não dizemos economicistas). Tudo, no fim, se resume a um frio calculismo como se o dinheiro justificasse tudo e os cálculos financeiros de repente se convertessem no supra sumum da política. E falava daquele casal de idosos de Tavira que ante a doença e o absoluto estado de abandono se decidiram, e desculpem a crueza da palavra, pela solução mais radical a que um homem pode ser sujeito...
Matou a mulher e a ele de seguida...

Acto de uma radicalidade, de um exagero que nos choca...
Sim, mas de denúncia do estado de abandono a que os idosos chegam... não precisamos de dizer mais!

Mas o que fica desse acto é muito mais do que uma sentença moralista: a certeza de que o exagero do seu acto define com clareza a amplitude da solidão, sofrimento e abandono a que muitos outros estão sujeitos e em absoluto silêncio e resignação.
Abandono pelo próprio Estado, pois claro!

Já agora, e em jeito de conclusão, algumas palavras como estas podem elucidar alguma coisa. Não concordamos com a conclusão a que chega, mas o problema está bem identificado!

2 comentários:

Unknown disse...

Podia ter sido em Tavira, mas não foi...

O problema é grave, pior que a pobreza e o abandono, é a pobreza envergonhada e o abandono dos filhos, que muitas vezes se recusam a dar informações sobre os seus rendimentos e impedem os pais de receberem o Complemento Solidário para Idosos!!!

PS - Não foi em Tavira, foi em Loulé. Fica ao lado, numa das zonas mais ricas do Algarve e do País!

N.P. disse...

Obrigado pela rectificação. Estava a citar de memória e esta muitas vezes falha.
Quanto ao que diz só posso concordar consigo e reforçar tudo o que diz sobre esta realidade tão desigual que cada vez mais é a nossa marca como nação. Se por um lado o abandono tem essa marca egoísta e que não referimos de recusa dupla, de recusa da apoio dos filhos aos pais e de recusa de verdade fiscal a única que justifica o facto de, com verdade e justiça, e o Estado possa colocar à disposição do idoso os recursos que disponibiliza para quem precisa; mas por outro lado o próprio Estado deve ser mais ambicioso no apoio que pode prestar. Por vezes esse apoio pode ser de mais informação, outras de novos modos de apoio a idosos como estes. O essencial da nosso reparo tinha a ver com a recusa de aceitação por parte do estado da prática, por omissão, de um certo darwinnismo...
Não vamos alongar esta ideia, mas o seu esclarecimento é fundamental para aprofundar este tema e colocar a tónica da responsabilidade onde, com justiça, deve ser colocada.
Obrigado.