09 novembro, 2006

«A diferença entre um quisoque e a blogosfera».

Terão lido o artigo de opinião que José Pacheco Pereira (JPP) fez publicar hoje no «Publico» com o título acima. Não somos particularmente adeptos ou seguidores da JPP. Parece-nos que a sua opinião está inquinada pelo que chamamos o "Síndrome de Damasco". Mas tal não significa que não apreciemos a objectividade do que diz nem o rigor com que o expõe, a preocupação que tem em se fazer entender.

Não temos que concordar com tudo o que diz neste artigo, mas não deixa de ser significativo o que lá diz. Temas recorrentes, sem dúvida, entrecruzados na complexidade da blogosfera. JPP tem um certo ar elitista nos temas e uma certa 'arrogância' intelectual. Defeitos que podem ser de muito mais gente, certamente, atributos que muitos não podem recusar. Por isso, a sua apreciação, tudo quanto lá diz, deve ser lido à luz desses pressupostos e que só nesse pano de fundo se justifica. Ele que, recorde-se, 'possui' um blog dos mais frequentados: abrupto.blogspot.com. Na 3ª coluna lê-se:

«O número dos blogues significa que também pouco a pouco, as massas das sociedades de massa cheguem à Rede como nunca chegaram antes aos jornais ou chegam hoje à televisão. Trazem com elas aquilo que antes, nos primeiros parágrafos deste texto chamei de "selvajaria": não querem mediações, que são o poder do passado, o poder dos intelectuais, o poder dos antigos poderosos. Querem democracia "participativa, não querem democracia representativa, não querem saber de nada que possa significar privilégio dos sábios, ricos e poderosos. Não prezam a intimidade e a privacidade, porque no seu mundo não existem valores, não prezam a propriedade porque a têm pouca, são anti-intelectuais, combatem todos os que parecem atentar ao seu igualitarismo funcional e punem-nos na Rede como os gostariam de punir cá fora:"é bem feito" é a expressão que mais se ouve.»

Não temos que concordar com isto nem discordar. Não defendemos nem a mediação, nem a total liberdade de qualquer indivíduo regurgitar de imediato o que lhe passa pela cabeça sem remédio nem critério. Quadratura do círculo, certamente!

A nossa opção foi a de não permitir os comentários anónimos (e esta decisão tem incorporada, qual darwinista assumido, a experiência dos erros passados). Preferimos o contacto por mail, forma 'sublime' de mediação, certamente, é verdade, mas não achamos correcto cercear de qualquer forma a liberdade de opinar nem fazer vista grossa à liberalidade de dizer o que surja na tola a qualquer um!

Não queremos manter artificialmente uma querela, nem fechamos a porta à possibilidade de esclarecer, quando necessário e do modo que achemos eficaz, certas abordagens algumas com alguns tiques demenciais. Em boa verdade não subscrevemos a tese de JPP de que muito do que anda na Rede é pura 'selvajaria'. Não, de modo nenhum, não é o nosso critério de qualidade que pode aferir ou filtrar tudo quanto um Outro julgue relevante. Um princípio de 'Caridade' é essencial na avaliação de tudo quanto se diz. A Rede é um espaço de liberdade e esta não coexiste facilmente com a mediação ou com a necessidade de um «Provedor da Crítica». Quando não existe essa capacidade crítica naturalmente que se pugna pela existência dessa mediação, se «cria» essa Autoridade que de lápis azul em riste remeta a asneira para o reino do inaudito, do inaudível.

Num espaço democrático remeter sem mais para o reino da selvajaria tudo quanto não caiba no apertado critério de gosto de alguns é indefensável, mas não significa também que se relaxe até à miséria a falência da capacidade crítica de outros. Em tudo há um equilíbrio, não de autoridade, mas de carácter!



JPublishá me esquecia: ler a última página do JN de hoje, a opinião de Manuel António Pina.