A questão da Autoridade surgiu aqui na perspectiva de crítica à sua justificação como eixo fundamental – único naquela opinião que contestamos – da educação, isto é, como o valor em torno do qual o processo se desenvolve, já que a sua falta, de autoridade, entenda-se, aparece como única justificação para o descalabro da educação. Chamamos há tempos o enquadramento legal do processo para que nele se vislumbre, por um lado, a ausência desse termo ou de outro de igual natureza e, por outro, o conhecimento dos princípios objectivamente propostos para o desenvolvimento do processo educativo. De facto, parece-nos um contra-senso, não tanto histórico – que por vezes as rodas da História rodam demasiado devagar para alguns – mas intelectual, pela incapacidade de demonstrara na prática o papel que a autoridade – pura e simples, tal como se apregoou -- dos professores se coaduna com o desenvolvimento de outras qualidades e valores que são considerados fundamentais e constituem o perfil do cidadão que há que formar desde os bancos da escola. É que não se pode afirmar a autoridade sem entrever nessa abordagem os problemas fundamentais que ela coloca: o da liberdade e da igualdade. Se autoridade significa prioritariamente impor uma ordem na escola, esta prática falha redondamente a ideia que subjaz ao próprio étimo: autoridade vem do latim de augere (aumentar, promover). É, pois, no enfoque pragmático que se dá ao termo que surgem as diferenças e se revela o matiz ideológico de quem avalia a escola. Se a autoridade para uns é essencial para a formatação das mentes dos estudantes de acordo com um determinado modelo de organização social e reprodutor do seu «status quo», para outros, a autoridade do professor na escola serve apenas para aumentar as capacidades do aluno e desenvolver as suas competências para que este possa autonomamente viver em liberdade e reforçar a sociabilidade democrática. A autoridade a que se recorre neste processo de natureza pedagógica radica na qualidade das interacções na sala de aula, nas estruturas organizativas e na rede de relações, solidariedade e responsabilidade que se estabelecem na escola tal como esta é hoje entendida. Ma exige também, acima de tudo, uma nova dinâmica pedagógica que vise instituir uma autoridade suportada na criação de projectos claros e partilhados de estudo, de investigação e de trabalho, mas também promotoras de estratégias onde «[5 –A educação promove] o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva.»
O que a ilustre detractora da escola inaugurada pelo 25 de Abril deseja é, por um lado, regressar ao passado, mas não sabe, nem quer saber, que a Escola de hoje já não é habitada pelos grupos sociais de 24 de Abril, que à Escola Pública são pedidas mais tarefas que aquelas que a estreiteza de vistas e a míngua de objectivos da recalcitrante permite compreender, e que são diferentes dos eleitos pelos escolarizados do «antes», e que o conhecimento hoje se dissemina de uma forma bem diversa tornando obsoleta uma figura ‘magistral’ e autoritária de professor impondo respeito ou pondo o aluno no ‘olho da rua’. Naturalmente que perfilando-se na linha mais retrógrada da direita mais obtusa, o que mais deseja é que a Escola que tão ignorada avalia seja a escola sectária, segregacionista e elitista (e grátis) que deseja para as para as elites que com ela, julga ela, militam.
Por isso, a sua tirada-- e com qu floreados retóricos foi exposta-- nada mais é que um protesto contra a invasão da escola pelos «pelintras», pelos «cabaneiros» das aldeias do interior que vêem assim ampliadas as hipóteses de sucesso na vida e, por via disso, a fuga a ancestrais teias de dependência e à validação de uma moral baseada na autonomia e não no medo.
Pelos vistos, certas ‘elites’ – de Montalegre incluídas – dão-se mal com a liberdade, com o saber, com a cultura.
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