26 dezembro, 2007

Bloco de partos de Chaves encerra à meia-noite de quinta-feira .

Há medidas às quais as mais elementares razões, quando ditas, não justificam de todo o acto que querem tornar justo.
O fecho de uma maternidade não é dramático quando tudo acontece como se planeara, mas haverá sempre uma realidade brutal que complica os resultados. Quanto a «maternidades», a campeã dos «fechos» foi Leonor Beleza e o resultado foi, ao que dizem, uma brusca subida no ranking porque a mortalidade infantil baixou drasticamente... Não sabemos se não «será pecado ir duas vezes à missa»...

Bem ouvimos as razões do senhor ministro para fechar SAP's: «é impossível manter por mais tempo as populações iludidas, oferecendo-lhes uma coisa que não é uma urgência, oferecendo-lhes consultas de medicina familiar feitas por pessoas que não têm nada a ver com o seu Centro de Saúde, que vêm de fora e estão desligados da sua situação de saúde». Atendendo à argumentação do senhor Ministro, e por maior razão que lhe assista, não pode pedir que se aceite a conclusão de «fechar» a partir dos argumentos que esgrime: desiludir uma população fechando-lhe o serviço não lembra a ninguém. Os termos da conclusão não fazem parte das premissas: Se a «urgência» era uma ilusão, que se transforme numa que o não seja! Voltamos sempre ao mesmo drama de ver convertidas as vítimas em culpados!

Não nos custa acreditar que as populações até beneficiem com estas medidas, em particular no caso das«maternidades», mas custa muito ver que se faz um assalto à inteligência dos provincianos com explicações deste tipo. Se o novo modelo de saúde familiar (USF) funciona bem -- e dizem que sim -- ele trará para as pessoas, a breve prazo, a as mais valias de que o Ministro fala. Não vimos, porém, por exemplo em Alijó, a constituição dessas equipas. Não são mais ou menos ambulâncias que alteram o resultado desta complicada equação, até porque o problema está na avançada idade das pessoas abrangidas por estas medidas, a crónica falta de meios humanos para a implementação de soluções inovadoras e a inevitável e determinante carência de recursos financeiros. Decisão difícil, sem dúvida e, como todas elas, difícil que alguém a aceite sem a contestar, mas ...

E há que ter em conta esse argumento essencial como o do autarca de Chaves, ao realçar o facto de que certos serviços só se compreendem numa lógica de proximidade das populações que servem.

Mas o que não ajuda mesmo nada é a justificação do ministro ser publicada após a cerimónia de lançamento de mais um Hospital em Lisboa.


1 comentário:

Anónimo disse...

A questão a colocar é mesmo a do funcionamento das USF. A Unidade de Missão para o CSP do Ministério da Saúde, encarregue de dar apoio à formação daqueles serviços, consegue fazer sair toda uma panóplia de documentos em que nem sequer é esboçado o que seja tal modelo. Deve ser por pensarem que toda a gente o entende... Na verdade, mesmo grande maioria dos profissionais de saúde, não faz a mínima ideia do que seja. POrtanto, e que pode sair das tentativas que forem sendo postas em prática, pode ser qualquer coisa e mesmo os modelos de avaliação propostos por aquela unidade de missão, só se preocupam com contabilidades menores como o número de atendimentos feito, o que é completamente contrário ao espírito e à letra do modelo de saúde familiar. Ruth Freeman descreveu-o no final dos anos 60 do século XX e, desde essa época, vem sendo utilizado e melhorado mesmo em alguns poucos serviços do nosso país, um dos quais, no âmbito de um Ministério, foi recentmente dasactivado também. Por isso, não estranho nada que se inaugurem hospitais e sobretudo hospitais privados ligados de perto ou de longe às seguradoras. O modelo que nos pretendem impingir não tem nada a ver com Saúde Familiar. Tem muito a ver com o modelo americano e sobre este, o melhor e mais esclarecedor documento é o recente filme de Michael Moore, SICKO, que recomendo vivamente a quem se interesse por conhecer para onde caminha o sector da saúde em Portugal.