Num colóquio de que participamos, Luc Ferry divertiu-me utilizando a seguinte fórmula: "Não venham com conversa fiada: entre um homem de direita generoso e um homem de esquerda inteligente, não há muita diferença!" A fórmula é picante. Não creio que seja totalmente correcta. Procuro ser um homem de esquerda inteligente.
Não creio que isso baste para fazer de mim um homem de direita, generoso embora. Talvez porque eu não acredite muito, tanto em política como em economia, na generosidade. Os ricos nunca dão aos pobres, ou só dão migalhas. Os pobres precisam então de se organizar, se defender, tentar transformar a sociedade (se possível sem se esquecerem de ser inteligentes): é essa a missão, hoje como ontem, da esquerda. Se levássemos essa ideia às últimas consequências, isso mexeria com alguns arcaísmos confortáveis e perigosos. Se a esquerda houvesse compreendido antes que o aumento da insegurança era nefasto em primeiro lugar para os mais pobres, ela não teria deixado essa avenida para a direita...
André Compte-Sponville, O Capitalismo é moral?, p, 153,154
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