Um tipo de argumento recorrente -- de tão recorrente ser já perdeu o valor explicativo -- consiste em invocar o modelo da circularidade para explicar tudo e ... não explicar nada. Tentavam fazer crer que a «desertificação» tinha origem na política do fecho de organismos públicos. Percebe-se facilmente o objectivo de tal argumentação, mas a facilidade do alvo faz descuidar o agente na tecitura dos argumentos, ficando de saldo apenas a intenção partidária e incólume a análise e compreensão do problema, o justo responsável pela situação.
A verdade, porém, é que esse tipo de argumentos tem uma existência meramente lógica e como bem dizia alguém, ante o questão da primazia do ovo ou da galinha, há sempre um ovo primeiro. Neste caso, não se explica nada afirmando essa indefinição, essa implicação mútua das causas nas consequência e das consequências nas causas... As causas da desertificação estão imbrincadas em decisões políticas que se tomaram ou naquelas que, imponderáveis, não foram tomadas.
Na nossa opinião, uma das causas desse percurso de «litoralização» -- Guterres chamava-lhe de "ermamento" -- tem a ver 1) com uma perspectiva centralista e, por via disso, 2) no investimento descaracterístico dos fundos dos primeiros quadros comunitários de apoio. Investimento descaracterístico porque eivado de preocupações de manutenção de uma certa «ordem» social sem cuidar de superar atrasos estruturais, nem de injectar capital e ideias em medidas produtivas e verdadeiramente modernizadoras do tecido social, político e económico do país.
Vem-nos à memória o caso de Espanha que no tempo de Gonzalez concentrou em acordo todas as forças vivas e decidiu investir com rigor os fundos comuntários. O desemprego atingiu valores muito acima do 20%, grande parte do tecido produtivo -- obsoleto e improdutivo -- foi «abandoad à sua sorte... os sindicatos participaram no acordo e garantiram as almofadas sociais para os cidadãos atingidos por essa medida ... e os resultados estão à vista; ou a Irlanda que decidiu investir a sério na educação e formação profissional oferecendo mão de obra cara ... mas competente!
E que tem a regionalização a ver com tudo isto?
O Norte bateu no fundo...
Pode ser que lentamente a razão volte a vencer a demagogia e o oportunismo das vitóris fáceis à custa de ideias e projectos reformistas (para não dizer revolucionários). Só que alguns ditos por si mesmo reformistas quando chega o momento das reformas foge-lhes a coragem...
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