15 outubro, 2006

'Conta de Gerência' e auto-censura!


«Não faças cumprimentos

Deixa-te de hipocrisias

O alívio aos sofrimentos

Não se dá com cortesias

António Aleixo, Este livro que vos deixo.

I - A nossa tese é só uma: a nossa qualidade de vida depende da qualidade da Democracia e que a qualidade da democracia depende da qualidade dos cidadãos, da sua capacidade de intervenção, da qualidade que exigem para as respostas que lhes dão para o cumprimento dos seus direitos e as exigências éticas que colocam no cumprimento dos seus deveres. A qualidade dos políticos dependerá das qualidades das políticas que exigirmos como essenciais e nas condições em que as apresentarmos, e não o contrário. A não ser que alguns assim o desejem, criticando com a mesma falta de qualidade e transparência de que acusam os políticos que combatem. Más políticas também dependem, e muito, do mau sentido crítico e na falta de qualidade das críticas operadas por alguns cidadãos. Estão bem uns para os outros!

II. Há palavras que nos arrependemos de as haver proferido!

Um simples ‘pode’ levou o seu sentido bem longe, para espaços onde não o sonháramos! Culpa nossa, certamente, que o colocamos exposto à sua corrupção. Exposto, sim, mas não demasiado. Afinal, em qualquer dicionário, não se vislumbra qualquer equívocidade nesse termo. Pode, o ‘pode’ novamente, o ‘pode’ significar «Probabilidade de se verificar o ponto de vista que se deseja contradizer». Simples, elementar e que justificava em alguém um interregno prévio à precipitação do juízo. No texto que tanto incomodou um ou dois – e quanto eu lamento a importância que lhes dei – o ‘pode’ significava isso apenas. Dizíamos ao opinante apenas isto: «Os valores que tomas de referência coloca-los ambos no mesmo plano, embora se reportem a duas realidades bem diferentes: uma é a do preço do custo e o outro pode estar subsidiado. Não pensaste nisso?» Queríamos dizer: não os compares, não é sério argumentar com base nesse equívoco.

Naturalmente que essa expressão, ‘pode’, pode ser entendidas de muitos modos. Não é só a preocupação e cuidado de quem diz que releva para a interpretação do dito. A cultura e os ‘valores’ presentes na contenda ditam a sua efectiva interpretação, independentemente das diversas intencionalidades em jogo. E não há um árbitro! Apenas a opinião de quem a tem, e esta não pede licença a ninguém para ser dita!

III. O que é que um outro entendeu!, e levou tão a peito a afronta que repetiu a graça:

«Não deixa de ser surpresa que tão douta e sabedora pessoa, Dr. Nuno Pereira, se limite a pressupostos que, no mínimo, "podem" raiar a hipocrisia. Dado que "pode", concretize... ou não "pode" dizer tudo o que sabe?»

Graça, que foi tão só a de truncar clara significação de ‘pode’ e dar-lhe aquela bem a jeito para poder daí inferir falaciosamente consequências insultuosas! Sim, Insulto. O segundo ‘pode”, a hipótese subjacente à questão «ou não "pode" dizer tudo o que sabe?» essa é insultuosa. Compreende-se agora a razão pela qual autor dessa frase defende noutro lugar «clareza de ideias" e "objectividade do assunto" é, concerteza, algo auto-idealizado». Pudera, falar claro não interessa a quem vive nas sombras da interpretação… mas apenas a quem fala responsavelmente do que quer, quando quer e sem preconceitos!

IV. Falando claro, o que é que quer dizer esse ‘pode’?

Algumas coisas, e nenhum dos sentidos possíveis é dignificante para a pessoa a quem se referem.

Não pode porque não sabe?

Não pode porque não o deixam dizer o que sabe?

Não pode porque implicado em coisas menos claras às quais convém o esquecimento?

Não pode porque o processo de que falamos é tudo menos transparente?

[…]

Não pensaste estas hipóteses? Hum!

V. É INSULTO PURO!

Depois, concretizar. Então agora já vale a objectividade? Será que vale a pena discutir, pelo que se vê, com alguém incapaz de enunciar com clareza um ponto de vista, ordenar duas simples proposições para nos apontar o erro, ou contradizer uma tese apontando uma outra? E não corremos o risco, como alguém o fez, de uma forma moralmente indigna, de passar do plano lógico, da matéria substantiva em discussão, para o domínio da consideração moral: quase hipocrisia! E acham insultuoso o dizer que quem assim age está no plano zero da moralidade? Não, não vale a pena!, e de tentar falar a sério, neste caso, também nos arrependemos!

E diz um que a nossa sabedora pessoa – epíteto que recusamos por exagerado -- «se limite a pressupostos que, no mínimo, "podem" raiar a hipocrisia».

Será que a evidência desses ‘pressupostos’, a raiar a hipocrisia -- NO MINÍMO! --, não conseguiu nunca animar, motivar, nenhum deles a dizê-los? Não, seria falar claro e a insinuação compensa mais!

VI. Podem ou não podem dizer? Porque razões não dizem também eles tudo o que sabem? Não lhes interessa, inferimos nós, por causa dessa mania inscrita na parte negra da alma portuguesa que consiste em dizer mal por hábito e considerar defeito falar claro. Porque falar claro não é apenas uma questão de … falar claro, mas uma questão de respeito perante quem nos ouve e perante aqueles de quem falamos. Não é uma questão de objectividade, mas de RESPEITO por todos, incluindo aqueles de quem discordamos! O que estava sempre em jogo, e que não perceberam, era e é uma questão de moralidade! A clareza é apenas uma ferramenta ao seu serviço e não é auto-idealizada, mas exigida, I M P O S T A, pela e à nossa responsabilidade.

VII. Naturalmente que há exageros. De um lado exageram uns por quanto insinuam; da nossa parte, confessamos, na falta de cortesia, porque que esta não pode ser limite à liberdade de dizer, principalmente quando a afronta se refere mais a uma falta de respeito do que de objectividade.

«O alívio aos sofrimentos

Não se dá com cortesias.»