18 março, 2009

Discriminação positiva.

Não nos propomos discutir o termo, dizer para lá do próprio nome aquilo a que ele se refere quando quem o usa pretende dizer que faz discriminação positiva. Nem discutir as próprias medidas e concluir se a mistura de cidadãos, com o ferrete de uma certa etnia, e com idades tão díspares entre os 9 e os 18 anos, separada de outros cidadãos é uma medida defensável à luz de princípios e valores com algum sedimento e consenso na nossa matriz civilizacional. Claro que não esquecemos que há nestes actos a participação benévola e concordante da própria autarquia numa iniciativa que se propunha que fosse de discriminação positiva. Imaginem agora a sua participação determinante no novo modelo de gestão das escolas...
Naturalmente que vai faltando aos arautos de tal bondade a credibilidade básica para que se possa sequer discutir com eles o tema em abstracto, quando mais a bondade e eficácia cívica da sua intenção na formação da personalidade e cidadania dos "alvos" de tanta bondade. Choca isso sim, é saber que tal profissão de fé nesta iniciativa segregacionista -- dita de carga positiva -- não seja concordante com a profissão de fé com outras medidas marcadas pela preocupação de não discriminar, como o de retirar de apoio a escolas de ensino especial para meninos e meninas "especiais". E quando se defendeu o encerramento de muitas escolas do primeiro ciclo, na sua base estavam precisamente estas novas possibilidades de socialização diferenciada e enriquecedora...
Não se tratando de discutir aqui aquilo que é, em si mesmo, discutível, o que está e jogo é apenas o problema da confiança do cidadão na racionalidade do próprio Estado, a confiança que há que se ter nas razões, nos objectivos e valores em que se alojam estas decisões. Todos sabemos que "o bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada", mas fazendo a história ou a genealogia de decisões deste quilates fácil é de perceber a facilidade com que estes dislates civilizacionais acabam por cumprir o seu destino. A segregação campeia num espaço vocacionado para a integração cultural e mal vai o país que assume politicamente, sob a capa de um esclerosado relativismo cultural, que a melhor forma de integrar e compreender realidades culturais distintas é, precisamente, separar. Ver, por exemplo, este relatório em síntese...
Não se percebe (isto é, percebe-se, as razões é que não são válidas) o tempo que uma certa "inteligência" demorou a constatar o caos e o desnorte que impera para os lados da educação... Vista a secura e isolamento a que estão votados os responsáveis máximos da educação -- não obstante o infrutífero esforço de quem procura demonstrar o contrário -- talvez o primeiro ministro conte os dias que faltam para se livrar de tantos sarilhos em que o meteram. Naturalmente, acreditamos que o Eng. Sócrates pouco perceba de educação e tenha embarcado no sonho de que tudo era um mar de rosas, só aqui e ali ensombrado pelas iniciativas dos professores e pelos "manipuladores" sindicais. Mas enganou-se ao aceitar acriticamente os argumentos "ex catedra" de quem o sossegava quanto à bondade de tudo quanto se fazia em reformas na educação. Este exemplo de Barqueiros manifesta a superficialidade da reforma e o claro sentido das transformações que urgem no serviço público de educação.
Arrisca-se à constatação, tardia, quem sabe, de que a montanha pariu um rato...

1 comentário:

Anónimo disse...

veja
www.psmontalegre.com