08 outubro, 2008

... ninguém repara.


Vem hoje em honrado lugar do JN a notícia de que um número anormal de professores se está a reformar. No actual contexto, reformar-se significa fazer uma opção de abandono da profissão com penalização de monta. Visto de fora, pode-se aceitar qualquer explicação para o caso mesmo que tal esteja bem longe da verdade. E para muitos tanto faz!
O problema muda "ligeiramente" de figura quando se opera a triangulação entre quem conhece a realidade da escola e um dos responsáveis políticos pela "área". É sabido, e experimentado, que a realidade da escola não interessará a muita gente, e pouco interessa à maioria se vão muitos ou poucos professores para a reforma (deveria importar que tal facto aumenta a despesa pública), as expressões dos responsáveis políticos sobre a matéria já não podem, porém, passar por palpite ou alvitre inocente. Claro que para o Valter Lemos ta
l notícia não passa de uma "manipulação dos números", que não senhor, falar de desmotivação?, não acha "nada que os professores tenham falta de motivação, bem pelo contrário: os resultados escolares em Portugal melhoraram e muito e isso deve-se ao trabalho dos professores”.
O que ele acha ou não acha não toca o essencial. Do resposta dele apenas se pode concluir que os professores,
em face dos resultados, são profissionais competentes. Nenhuma lógica permite que disso se possa inferir de que esse facto contrarie a evidência de que muitos professores estão, de facto e com penalização severa, a abandonar a profissão a um ritmo anormal. Até esquece a elementar verdade, velha mas de acerto comprovado, de que "contra factos não há argumentos". Que ele não veja isso até vai, infelizmente, parecendo "normal", custa é constatar que o desprezo que por esse país grassa contra os professores (e vá-se lá saber por que razão) não permita uma abordagem honesta do fenómeno e uma procura de compreensão para o abandono anormal das escola por professores experientes e competentes, dos ditos do governante e à possível relação entre as atitudes de uns e de outros.


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