15 julho, 2008

OPS! -- opinião socialista.

Não temos pretensões de comentador político, mas não deixa de ser relevante o facto de as sondagens, valendo, é certo, aquilo que valem, nos deixarem ante a eminência de uma enorme pasmaceira. Quem esperava alguma reanimação do debate político pela emergência de Manuela Ferreira Leite, acaba por ver que ela, como era esperado por quem mais friamente olha para a dimensão política, nada de novo veio trazer para a reanimação do debate político e para a clarificação e apuramento das decisões que urgem que se tomem. Quer o passado político e governativo da agora líder, quer por aquilo que consegue dizer aos portugueses nas oportunidades que lhe deram para se fazer entender, a verdade é que a senhora para lá de nada dizer de novo conseguiu essa coisa espantosa de ressuscitar na actualidade discursos e perspectivas que se julgavam há muito arredados do horizonte cultural e moral. Outra circunstância é determinante para essa nulidade actual: a persistente ocupação pelo governo do espaço sociológico habitual dos partidos mais à direita do espectro partidário português e o recurso a um discurso legitimador da sua acção em linha com um certo liberalismo económico ainda que aqui e ali temperado com um certo cariz social, também ele em linha com o cardápio neo-liberal.

Se alguma animação se vislumbra no horizonte, ela brota do interior do próprio partido que suporta o governo, fazendo notar que um partido que se diz de esquerda não pode justificar a sua acção com as inevitabilidades do momento, como se a linha de progresso fosse única e as decisões fossem as ditadas por essa lógica adversa e obtusa a qualquer intromissão ideológica (aqui e ali visível penas pelas bandeirinhas assinalando um débil ou invisível estado social). É que a morte das ideologias sabemos bem a quem interessam, e marca de esquerda de um partido não pode ficar na sociedade reduzida à instituição da IVG.

Por isso Manuel Alegre, que parecia ter esgotado o seu “élan”, aparece com uma iniciativa que para lá da adesão ou não os seus princípios e iniciativas, discordando ou não das posições que toma, contribui para que a variedade, a discussão e a criação de propostas possa aparecer no interior do próprio partido. É uma boa notícia para o Partido Socialista que aparece verdadeiramente aberto à diferença e actualiza as suas raízes; uma boa notícia para o próprio país que vê mais um espaço de debate e de destruição de um certo monismo que parece afunilar o país para um sensaborão “centrão”.