28 junho, 2008

Mães de Vilar de Perdizes contra fecho da escola ]2[

1. Se há coisa mais difícil de perceber é a realidade educativa. Primeiro porque a sua arquitectura é recente, ela é, tal como hoje ainda se vê por aí de forma algo desconcertante, uma filha da revolução industrial, servindo os seus objectivos e marcada pelas suas virtudes e defeitos. Só que a matriz sociológica que lhe deu origem é hoje bem diferente no mundo, embora essa percepção seja hoje em Portugal algo difusa e, aqui e ali, impenetrável a alguns. Manifestações há acerca da escola que são profundamente desconhecedoras da nova realidade que a escola é ou deva ser. Mas o problema é que a escola de hoje é de facto uma realidade, singular, por um lado, mas complexa na sua estruturação, e permeável a um conjunto de valores e de intervenientes que a delimitam por critérios particulares, muitos deles -- se excluirmos os dos professores -- alheios ao interesse da escola e da formação dos alunos. Os interesses dos pais, da autarquia, do governo, dos empresários, dos partidos políticos, no e fora do governo, não têm que ser orientados por um perfil de aluno marcado para a liberdade e para o sucesso pessoal e profissional. Marcada, isso sim, para o sucesso dos governos, dos partidos políticos, dos pais e de todos quantos, enchendo a boca com a palavra escola, se governam e afirmam à margem das gerações que trucidam no non sense das suas medidas e desinteresse efectivo.

Assistíamos não vai há muito a um debate na RTP2, o único que nos vai pondo pelo menos em contacto com essa realidade que no quotidiano se mascara de tantos estereótipos e propaganda. E ficamos chocados com a prestação da deputada do PS. Chocado por a saber profissionalmente como professora e parecer que ela de repente não repara que os outros reparam na discrepância entre essa matriz profissional, e o discurso que ora diz , e que devendo ser independente do do governo é exactamente, linha por linha, palavra por palavra, aquele que o próprio governo profere, como se a eleição para deputada a tenha feito conversa, tal Saulo na estrada de Damasco, ... De repente, faz-se o nivelamento da realidade educativa pela matriz partidária, como se a educação se possa reduzir a um discurso de circunstância. Pelos visto, assim parece, e é triste!
Os destacados do partido do governo para em público defender as medidas do governo são, pensamos, e vale como opinião, manifestamente de segunda escolha. No caso, sendo professores, ampliam ao limite o descrédito lançando na escuridão as boas razões e relevando as más.


2. A propósito dos exames, e sirva o que acima dissemos como introdução: gostaríamos conhecer o resultados das provas de aferição dos alunos de Vilar nas provas de Matemática e Português.
A criação dos centros escolares é uma medida de transição -- embora se veja o governo afirmá-la como última -- para um novo modelo de ensino, implicando novas metodologias e interacções que podem abrir novas possibilidades de sucesso escolar, social e profissional. Combater esta medida é não saber de que se fala e nesta aspecto o Governo esteve bem. Não acusamos as mães de Vilar de Perdizes de nada, mas não podemos deixar de ver que a escola, tendo no seu interior um conjunto de protagonistas que não se conseguem libertar dos seus valores pessoais, dos interesses das suas capelas e, por que não, dos seus interesses partidários, podem deixar virgem de interesse e de preocupação os reais interesses dos seus filhos e alunos.

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