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Um mérito deve ser creditado a Rui Rio, o da persistência com que se tem dedicado, contra tudo e contra todos (principalmente contra todos) à missão de que o Destino o incumbiu fazer do Porto uma cidade onde, como nos cemitérios, reine um silêncio absoluto, propício à reflexão e à congeminação artística. É assim que Rui Rio tem vindo a tirar do caminho dos criadores do Porto tudo o que, particularmente a vozearia crítica, possa distraí-los da ruminação intelectual. Mesmo a sua decisão de cortar os subsídios às actividades culturais tem sido mal compreendida. Trata-se de uma medida tendente e estimular a imaginação e a criatividade dos portuenses, sabido como é que a necessidade aguça o engenho e que a barriga cheia, ou até só remediadamente composta, tende a afundar os artistas numa modorra digestiva incompatível com as turbulências do génio criador. É neste quadro de promoção do silêncio criador que deve ser entendida a cláusula que proíbe os trabalhadores da "Porto Lazer" de revelarem factos da empresa de que tenham conhecimento (só poderão revelar aqueles de que não tenham conhecimento). Se os trabalhadores andarem com a cabeça ocupada com factos, ainda por cima factos de que tenham conhecimento, com que lugar ficarão para as ideias?»
In Jornal de Notícias.
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