13 outubro, 2006

Primeiro a água. Depois, as 'indigenências'!


Nada é mais fácil que traçar armas a coberto da mais singela ignorância, daquela pela qual se pugna e se cultiva, daquela que não se quer superar. Por isso, qualquer frase feita, qualquer lugar comum ocupa ‘diligentemente’ o lugar da verdade, porque esta, o mais das vezes é inconveniente e a sua consciência arranha e incomoda, tal como incomoda pensar.

Se apontarmos cuidadosamente para a questão, e para aquilo que se pretendeu dizer – que isto de palavras são como lapadas, depois de sairem da boca ninguém mais lhes tem mão! – veremos que a tónica está no lugar onde interessa que não esteja. O preço da água! Afinal, perguntamos, quanto custa cada metro cúbico de água que é neste momento distribuído aos consumidores?

Tenha calma, nós esperamos, faça as contas…

Já está?

Pois…

É claro, é fácil dizer que a privatização da água vai poupar verbas ao município para colocar o custo efectivo nos consumidores e libertar verbas para a ‘gestão política’. Na nossa perspectiva não é claro que assim seja nem tem que forçosamente assim ser! Mais uma vez se precipitou, colocou em verbo aquilo que nem por sombras lhe bordejou o juízo. Afinal, só intui os custos, mas não sabe o real valor de quanto o município investe e gasta no serviço que presta e na injustiça – real ou possível -- que comete com os preços que agora pratica. Não sabendo os custos reais, como pode afastar a hipótese de afirmar que neste momento o valor não esteja a ser altamente subsidiado em prejuízo de uns, em benefício de outros? O que defendemos, não é que assim deixe de ser, que o custo passe automaticamente para o consumidor, mas que o custo passe a ser objecto de negociação anual, anual, ouviu bem, de modo que com transparência se perceba qual o custo efectivo do serviço e qual o valor desse subsídio que agora é posto no serviço e que não lhe é directamente imputado. E não é só transparência no custo, mas as condições da prestação do serviço de modo a que seja assumida na base de responsabilidade perante a comunidade. O preço não pode nunca colocar em causa o acesso a um bem fundamental, e esta posição é política e não económica e, por isso, na nossa opinião, inegociável!

Por isso a «privatização» – no caso de Montalegre a favor de uma empresa privada mas de capitais públicos, NUNCA defenderemos uma privatização efectiva – não será feita a troco de água, mas a troco de efectividade da prestação de um serviço e, cumulativamente, a troco de transparência nos custos, de modo a que se perceba a quem se deva beneficiar – famílias numerosas, utentes com baixos rendimentos efectivos, pequenas empresas em inicio de actividade etc. – e saber aqueles que não é justo que se lhes continue a fornecer um serviço subsidiado. O que me parece é que não está com vontade nenhuma de pagar um valor justo pelo serviço que lhe prestam, de valorizar um bem escasso mediante a intromissão de critérios de gestão co-responsabilizante - da comunidade, do prestador de serviço e do «cliente» -- e não ditou até ao momento nenhuma ideia para alterar esse «estado de coisas» que a alteração do modelo em discussão pretende reformular. Além disso, prega a qualidade da água mas, na prática, pelo que diz no texto, inferimos (somos nós que inferimos), contenta-se com bem menos. Ou contesta apenas os protagonistas? Já se viu isso e bem pior!

Depois há um aspecto que deve acautelar para que reconheçam seriedade nas avaliações que faz. Se não conhece a estrutura accionista da empresa, por que razão se precipita na avaliação da sua conduta! Irra. É fácil, a invocação do simples direito de informação perante o organismo público, neste caso, por exemplo, a Câmara Municipal, lhe dará, num prazo muito curto, acesso à informação de modo a evitar que a ignorância essencial sobre um tema leve à invalidação dos seus argumentos e à consideração sofismática da sua conduta nesta matéria. Onde há fumo deste, também há fogo!

Quanto às questões da água em alta, água em baixa, contadores…, pense um pouco, reflicta e perceberá que para esses problemas há bem mais respostas e soluções que-aquela-que-não-dá, porque as não tem certamente, quiçá por não as alcançar (certamente por preguiça ou enfado em pensar nelas). Fácil é esperar que o tempo as debite, não é?, embora espere, veja lá bem, que as respostas que esse tempo há-de dar não serão as «mais convenientes». E repete a «esperança» para que a ninguém escape a sua enunciação.
Sinceramente, não é possível ir mais longe neste conservadorismo estático e retrógrado!

Já agora, se não tem cuidado começa aos trinta a escrever as suas «memórias». Já é a segunda ou terceira vez que guarda para mais tarde esclarecimentos, quando não deixa que seja o tempo a dá-los por si! Se não tem nada a dizer, como é que espera que no futuro o tempo lhe dê a razão que agora não tem e, não as tendo para as discutir, porque perde tempo em dar-nos troco!

Um sucedâneo rasca da «Teoria da Conspiração» é mais operável por quem se aborrece na enunciação corajosa e objectiva de pontos de vista, onde as frases declarativas substituam as interrogativas. «Pensar incomoda como andar à chuva», não é?

PS. Aproveita para verificar a estrutura accionista da empresa na imagem que encima este post!

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