31 outubro, 2005

Se disto falo é porque persisto em não esquecer as tiradas, de uma retórica desenxabida, e até parola em alguns aspectos, em defesa da participação portuguesa -- de 'simples mestre' de cerimónias para os grandes dessa tempo -- no ataque ao Iraque. Vi e ouvi em plena Assembleia Municipal e fiquei estarrecido não pelo pavor ou pena do que ia acontecer ao ditador, mas pela profunda manipulação que sustentavam as teses da inevitabilidade do ataque ao Iraque como o último grito, o supremo produto da civilização contra a barbárie. Em tom de ‘pregador de quarta -feira de cinzas’ foram explanados as razões e os argumentos de tal cruzada; baixei os olhos, de vergonha, talvez.
Já muito se passou, entretanto; já se revelou a falta de fundamentos e o facto de haverem sido manipuladas as provas -- aquelas que Durão Barroso afirmara ter visto e que eram inquestionáveis como legitimadoras da intervenção -- apresentadas ao mundo; já esmoreceu o vigor e a convicção de muita gente; JÁ MORRERAM MAIS DE 30 MIL CIVIS IRAQUIANOS E 2 MIL SOLDADOS AMERICANOS -- 64 PESSOAS POR DIA, DIZEM! E o país continua ingovernável, sujeito à tirania do sangue e da violência. Para os ocidentais talvez que esta violência seja tolerável na lógica de uma ‘cruzada’ contra o infiel. Para quem morre ou sofre as sevícias de uma situação que continua incontrolável, só mudaram os algozes.
Até o insuspeito Berlusconi vem agora revelar as suas dúvidas de sempre!
Aos apóstolos da salvação pela guerra e pelo sangue não ouvi ainda uma palavra de perpétua convicção na solução ou de reconhecimento do logro e do erro de aderir a uma solução por mera fidelidade canina ao líder!

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