05 outubro, 2008

O PSD abriu um espaço de debate em torno do problema da educação. Não é uma atitude inocente onde se possa ver como fundamental a preocupação com a coisa. De facto, se nessa acção houvesse uma real preocupação com a educação, tal facto seria evidente há muito tempo, pautando-se por iniciativas concretas. Mas não, talvez reverenciando a coincidência de Cavaco com o governo nessa matéria, o silêncio e a timidez foram a norma, não havendo pois nada a esperar desta iniciativa que não seja o capitalizar de um certo descontentamento que grassa silencioso no interior da escola. Tudo quanto de essencial na educação está lançado, mal ou bem, pelo governo e não será esta iniciativa que vai alterar o que quer que seja.
Quando vemos notícias como esta, percebemos como, lentamente, se vai reconstruindo a geografia dos problemas. Basta prestar um pouco de atenção para a realidade com que se debatem hoje os garotos e garotas em pleno processo de ensino para se constatar uma perfeita inversão do quadro de referência do processo de ensinar e de aprender. Por isso, essa notícia só estranha a quem não está dentro do assunto. Hoje ensinar ou aprender parece estar arredado do programa da escola, agigantando-se outras preocupações e finalidades que sendo legítimas não são, porém, fundamentais. Mas, pensamos, não vale a pena falar sobre isso, que estas questões pela sua especificidade, perdem a sua relevância quando descem ao estatuto de "lugar comum".
Quando os municípios vão ganhando protagonismo na educação, quando estão a ganhar um poder determinante no próprio processo de gestão das escolas, interessa discutir, colocar em uma nova luz estes problemas e tematizar com seriedade os princípios estruturantes das reformas em curso. O diagnóstico é fácil de fazer para uns, mas difícil de enunciar o problema numa linguagem que todos possam compreender sem o falsear. Conceitos como os de autonomia, essencial a uma escola de sucesso, hoje ninguém sabe o que seja... Um certo enviesamento ideológico, aliado a uma rede bem montada de banalidades, vai obscurecendo os problemas e as respostas que se colocam no interior das escolas e que obstam à serenidade essencial às aprendizagens. Fazer agora este debate sobre a educação, como o quer fazer o PSD, só nos coloca a questão: só agora? quando tanta gente está há tanto tempo a discutir, a revelar os equívocos e as potencialidades desta reforma, onde esteve o PSD? Para os profissionais da educação esta acção pode ajudar a dar relevo às suas razões, mas não deixa de dar também razão a uma certa raiva pelo desprezo antigo projectado sobre tantas razões só agora descobertas.



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