20 março, 2007

4ª aniversário -- 2

1 - No quarto aniversário da invasão do Iraque são notícia certos actos nos quais relevância maior ganha a injustiça cometida para com as vítimas, aquelas que supostamente estavam na primeira linha da justificação para a invasão.
Afinal, executar os algozes de tantos inocentes, a coberto da aplicação de uma lei tão discutível quanto o são as razões que "justificaram" o atrevimento de tantas atrocidades, é colocar, em síntese, tudo no mesmo plano: o de que para tirar a vida a um ser humano, a coberto de um qualquer perfil que uma qualquer lei determine, basta a decisão de um qualquer ser humano. A memória das vítimas de facto mereceria maior elevação ao considerar o seu martírio à luz da pura brutalidade dos seus algozes pela consideração actual de uma polaridade de valores de outra ordem. A brutalidade é negociada, repartida, disputada...
2 - Não deixa por isso de ser incómodo ver o nome de Portugal associado ao evento da invasão do Iraque! Não que este incómodo nos pacifique a consciência de sabermos mortos desde então cerca de um milhão de pessoas!, mas porque nos veríamos igualmente incomodados com tais consequências, mas sem nos vermos envolvidos no logro de por momentos termos ombreado, iludidos, com os senhores da guerra! Se nesse cenário nem somos capazes de manter em segurança uma embaixada...
3 - Não vamos tão longe que imaginemos uma consciência nos intervenientes tão pesada como a dos algozes que se combatem, mas não podemos deplorar o logro e o equívoco que assolou as mentes de alguns nesse tempo que nos quiseram vender tal evento como uma inevitabilidade histórica! Leitura apressada da própria história, incapacidade de compreender a história desse povo e desse lugar, que pressupunha alcantilado o liberalismo como o destino final da humanidade e como razão última e primeiro princípio de uma nova ordem. Já não seria a mão invisível do capital que não-milagrosamente fazia brota do regaço pão, paz e democracia para a infinidade de deserdados do universo e do Iraque em particular, mas essa mão bem real que já não tem, como teve, e com que acólito meu Deus, mais razões de espécie alguma para justificar os seus actos.

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