03 dezembro, 2006

Unanimidade e unanimismos...

Tem sido chamada para a primeira página a questão do unanimismo que se vive no PS. Chamar a atenção para isso é importante pela consideração da vitalidade de que a democracia precisa e o papel que os partidos políticos devem desempenhar nessa animação. Parece, pois, resultar dessa abordagem a consideração da importância dos partidos. É bom ver isso, já que não os secundariza face a uma omnipotente «sociedade civil».
Aquilo que se diz do PS deve ser dito de todos (quase todos) os partidos com influência no tecido político. Não nos parece, porém, que esse unanimismo reflicta por si só um mal para o país e para a democracia. A alternância democrática coincide, grosso modo, com o unanimismo no interior do partidos dominante; quando o lugar se inverte, quebra-se esse unanimismo e instaura-se um processo de redifinição de lideranças, de reformulação de princípios. Nada de mal nos parece que daí venha: nem do unanimismo de uns, nem dos movimentos contestatários das lideranças nos prtidos que se vêm forçados a uma travessia no deserto.
Não nos parece por isso que haja muita razoabilidade na opinião de que Helena Roseta e Manuel Alegre devam ser considerados uma espécie de jóias de família. Que seja reconhecida a sua importância e o papel de agitação das águas paradas em que a vida dos partidos ocasionalmente no poder se convertem, tudo bem, subscrevo essa opinião, mas pedir essa elevaçã parece tudo o contrário daquilo a que eles mesmo aspiram e da lógica da sua intervenção cívica. Esse reconehcimento não seria mais do que e entronização de uma atitude e, perante o esvaziamento do conteúdo da sua mensagem em face da forma, se converteria na «normalização» do mesmo discurso que eles mesmos parecem querer desarranjar! Querer o «o inimigos» mais perto que os amigos pode significar também essa tendência a anular a sua força e isso sim seria uma perda irreparável...
Mas há um outro aspecto que nos parece contraditório com essa tentativa de reproduzir ponto por ponto no interior dos partidos os defeitos e virtudes da «sociedade civil». Um partido se é um referencial de democracia, e deva por isso pugnar pela elevação dos seus valores no modo como age e dá maior visibilidade ainda aos seus princípios, tem por seu lado algumas especificidades que os esgotariam se fossem perdidas, e a divergência como lema não nos parece ser essa marca.
Se os partidos aspiram à diversidade e se esforçam pela abertura à sociedade, não é para perder a sua identidade ou baixar a energia colocada na defesa do seu programa, mas para o reforçarem, o programe e o partido, pela diversidade de abordagens, numa constante avaliação de consistência operada pelos seus críticos, dentro e fora dos partidos. De outro modo, a sua lógica aproximar-se-ía da do partido único, albergue de todas as tendências e corporaçoes e, não tardaria, assassino da diversidade e da democracia.
O unanimismo que incomoda não é, pois, o que acontece dentro dos partidos e que a sociedade, implacável, tenderá a sancionar, mas aquele que possa acontecer entre instituições, pela hipotética constituição de blocos que são indubitavelmente uma imensa terra de ninguém!

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