24 novembro, 2006

A António Gedeão.

No centenário do seu nascimento...

Escopro de vidro.


Estou aqui construindo o novo dia
com uma expressão tão branda e descuidada
que dir-se ia
não estou fazendo nada.
E, contudo, estou aqui construindo um novo dia.

Porque o dia constrói-se; não se espera.
Não é sol que deflagre num improviso de luz.
É um orfeão de vozes surdas, um arfar de troncos nus,
o erguer, a uma só voz, dos remos da galera.

Cantando entre dentes
um refrão anidro
abro linhas quentes
com um escopro de vidro.
Abro linhas quentes
sem tremer a mão,
com um escopro de vidro
de alta precisão.


... NO DIA NACIONAL DA CULTURA CIENTÍFICA.



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