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Antiga corte do boi do povo transformou-se num museu
Margarida Luzio
Irreconhecível. O chão de terra, onde outrora só havia estrume, e as velhas tábuas do segundo andar, que seguravam camadas de feno, deram lugar a duas lustrosas salas de soalho de madeira; as paredes esburacadas e negras estão lisas e brancas. E a função do espaço deu uma volta de 180 graus. 25 anos depois de ter servido de dormitório dos últimos bois do povo de Pitões das Júnias, em Montalegre, a corte destes animais, expoentes máximos do comunitarismo em Barroso, transformou-se, agora, num museu. De objectos ligados à vida rural.
A iniciativa partiu da Junta de Freguesia local e do Ecomuseu do Barroso, um projecto da Câmara Municipal de Montalegre, que tem por missão a preservação e recuperação quer de património construído, quer de usos e costumes em vias de extinção na região. Este museu funcionará, aliás, como um pólo do Ecomuseu. E deverá abrir ao público durante os fins-de-semana (ver caixa).
Além da reprodução de uma cozinha tipicamente barrosã, de trajes tradicionais, a antiga corte do boi tem expostos vários objectos antigos ligados aos trabalhos agrícolas e a outras actividades das gentes do Barroso, que hoje estão
Na aldeia, os mais velhos não cabem em si de espanto perante a transformação da corte. "Quem viu isto! Está muito bonito!", exclamou, ao JN, José Moura Carneira, de 75 anos, lembrando o tempo em que "cada um dava meio alqueire de grão [centeio]", para alimentar o boi que assegurava a reprodução de todas as vacas da aldeia.
A tradição do boi do povo em Pitões terá acabado há cerca de 25 anos. Hoje, cada agricultor tem o seu próprio boi. E, em todo o concelho, há apenas duas aldeias que mantém viva a tradição Covelães e Fafião.
"Era uma tradição que gostaríamos de recuperar, mas o problema é arranjar alguém disponível para cuidar do animal", lamenta o presidente da Junta de Freguesia de Pitões.
Autarca paga técnica
Apesar de estar pronto para ser apreciado pelo público, o museu da corte do boi do povo, em Pitões das Júnias, continua fechado. Por falta de um funcionário que assegure a abertura do espaço. A Junta de Freguesia está, no entanto, em vias de solucionar o problema. O presidente da Junta, António Dias, vai abdicar do vencimento que recebe pela função autárquica, cerca de três mil euros anuais, e, com esse dinheiro, assegurar o pagamento de um vencimento de uma técnica. Para já, pelo menos, o espaço irá abrir só durante o fim-de-semana. Além da gestão do museu, a jovem que vai ser contratada irá também organizar roteiros turísticos da aldeia, que, além do conhecido do mosteiro, irão incluir as ruínas daquele que terá sido o primeiro povoado da localidade. A falta de guias turísticas é "uma das maiores dificuldades" sentidas pelo autarca, que, por vezes, se vê obrigado a assumir essa função. "As vezes, as pessoas chegam cá e andam meio perdidas. Quando vejo um grupo, aproximo-me e perguntou-lhe se precisam de alguma coisa e lá ando com eles", conclui.
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