Do «Diário de Noticias» de hoje retiramos este texto. Não é, longe disso, a «verdade» final e definitiva sobre o assunto, mas é um exemplo do caminho para a lenta, de facto, mas irreversível desmistificação de ‘verdades’ que o são apenas e só porque são repetidas muitas vezes.
Afinal, em Portugal, a fazer fé nestas notícias, o problema é outro…
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Gestores em xeque
Helena Garrido |
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O relatório sobre competitividade do Fórum Económico Mundial é uma vergonha para os gestores e empresários portugueses e um elogio às instituições públicas. Portugal desceu do 31.º lugar para o 34.º entre 125 países fundamentalmente por causa do mau funcionamento das instituições privadas. Afinal, a fraca imagem do País deve-se em grande parte ao sector privado.
O pior indicador de Portugal é o que está relacionado com o baixo crescimento e os défices público e externo. A seguir, a mais baixa qualificação está na sofisticação dos negócios. Ou seja, fracos processos produtivos, problemas nas estratégias de marketing e dificuldade em delegar competências. Aquilo de que tanto se queixam os gestores, ou seja, os custos de contexto, que correspondem ao enquadramento em que se movem os negócios, e a qualidade das instituições têm afinal uma classificação melhor que o funcionamento das empresas e das entidades privadas em geral. Em termos globais, as instituições públicas têm, no ranking do Fórum com sede em Davos, melhor classificação que as privadas.
O défice público, um dos problemas do País que podem ser directamente atribuídos aos governos, está em vias de resolução. Se a reestruturação do Estado for conseguida, o sector privado passa a ser o grande problema do País, aquele que contribui também para o fraco crescimento e o défice externo.
A imagem que o relatório transmite de Portugal para todo o mundo em nada coincide com o discurso de gestores e alguns empresários que ouvimos no espaço público. Um dos exemplos mais recentes foi o do Compromisso Portugal. Mas muitos de nós colocamos frequentemente a questão: porque são as empresas estrangeiras em Portugal competitivas e as nacionais não o conseguem ser? A resposta, que é fundamental levar a sério, está neste relatório do Fórum.
Os gestores e empresários de Portugal têm urgentemente de olhar menos para o Estado e de tratar melhor dos seus negócios. Não será fácil. As fragilidades das instituições privadas reflectem a falta de formação em áreas hoje tão importantes como a economia e as finanças e uma atitude geral que se focaliza demasiado nos problemas e pouco nas soluções.
O grande contributo que o relatório de Davos pode dar é acabar com a conversa sobre o funcionamento das instituições públicas para começarmos a falar do verdadeiro problema do País, a falta de preparação de gestores e empresários. Só começando por enfrentar a realidade podemos iniciar as correcções. O Estado, afinal, é um falso problema. |
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Bem, temos muito para falar, não é verdade!
2 comentários:
É um falso problema? Mas afinal de que vive o estado não é do sector empresarial privado, então como é que um vive tão bem e outro tão mal?
Ai desiludiu-me, a Helena Garrido deve ser mais uma assalariada à espera que os grandes empresarios invistam nas suas ideias falhadas.
Oh.
É tudo relativo, penso. Não se consegue pensar o bem ou ou mal de um ou de outro fora da posição relativo da um em face do outro. Resulta do texto, talvez, essa tentiva de afirmar essa relação e questionar o lugar, 'assento etéreo em que uma certa estirpe se auto-cololcou. No fim talvez a razão não esteja em lado nenhum, mas apenas e só nesse espaço onde se cruzam os olhares críticos de uns e de outros e que tece a compreensão dos nossos problemas numa racionalidade arejada e despida de preconceitos ideológicos.
Permito-me apenas chamar a atenção para um elemento da peça: a necessidade de os gestores olharem menos para o Estado (quão longe vai o condicionamento industrial e quão perto está dos desejos de alguns) e de tratarem melhor os seus negócios.
Subscrevo esta parte, pelo menos.
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