05 junho, 2006

"Um Jornal para toda a gente é um Jornal para ninguém"

Não podemos deixar passar em claro o aniversário do «O Povo de Barroso». Não porque essa data reactualize um facto relevante, mas pela ‘forma’ como tal data é ‘festejada’. Seremos possivelmente entendidos como sectários naquilo que houver que dizer sobre o PB, mas nunca escondemos a consideração errática da linha editorial, nem esquecemos o seu apego (para não dizer escandalosa colagem) a um partido, nem baixamos agora a parada a pretexto do aniversário do Jornal. Arguirão, o mesmo se pode dizer de outros jornais, mas por diferentes razões, diremos. Não nos parece, pois, falarmos do mesmo jornal, não por força do conhecimento exaustivo que possuamos dos seus conteúdos que constituirão eventualmente relevante património do jornal, mas, precisamente, pela ‘não-visibilidade’ recente daqueles aspectos que deliciosa e diligentemente o relator se presta a relevar.

Vimos o ‘blog’ com que o partido operou a substituição do jornal on line, aquele a que acedíamos regularmente, e não pudemos deixar de constatar o evidente desinteresse que há no seu conteúdo para lá das persistentes e aborrecidas cores com que querem fazer lembrar aos esquecidos o código para entender tudo quanto nele constar. Imitação barata de um ‘jornal de paróquia’, pedantismo ou ingenuidade de quem por o feio amar bonito lhe parecer! Exemplo acabado de decadência!

É a prosa que nos ‘incomoda’ e motiva para esta breve abordagem. Para jornal de qualidade, jovem e viçoso como o laudatório de serviço o mascara, que «deu voz e tornou público um outro projecto numa perspectiva democrática e alternativa» não está mal tendo em mente a qualidade da alternativa que promoveu e ao serviço da qual se diminuiu e cingiu. É o povo quem a julga, de facto, e não somos nós quem tem a última palavra, mas não adianta impingir uma ideia à força de muito a repetir e que a torna, mercê dessa circunstância, alternativa de qualidade. Alternativa sim, mas de qualidade a fazer-se, a conquistar-se! Além disso a abrangência proclamada como quinta-essência do jornal é desfeita nos modelos mentais em que relator se inspira e que se recusa a actualizar, perpetuando no panegírico que lemos as velhas dicotomias das quais já nem os ossos resistem nesse imenso cemitério da história das ideias. Ressuscitar essa velha querela da superioridade moral a que a esquerda se arrogava foi chão que deu uvas e é quixotesco que agora alguém corra apressado atrás da parra que esquecida só agora tombou ante o focinho ougado da raposa! Falho de argumentos, certamente, para a explicação do vazio político que tão prolixo tenta esconder, porque a esquerda que inveja não serve nesta festa, é outra, bem outra, do que aquela que lhe interessa que seja para não ter que procurar noutros chavões o simulacro da sua compreensão. O tempo, porém, voga e só distraído é quem não lhe perspectiva o sentido e avalia as mudanças.

Naturalmente que há o recurso ao enviesamento ideológico para justificar a nossa discordância com o tom circunstancialmente laudatório do serviçal panegírico. Mas não, só por igual pecado que em nós encontrem poderão encontrar no jornal «rigor, independência e objectividade». Afinal, ser o porta-voz de um partido, ser o seu ‘órgão oficial’, não condiz com essa independência essencial que vãmente proclamam (e é legitimo que a almejam para serem credíveis) mas não é justo exibi-la como prática recente ou objectivo essencial. Só por distracção alguém pode arrojar-se na defesa de um projecto jornalístico como porta-estandarte de uma alternativa credível, capaz de congregar vontades e energias das «forças vivas do concelho», quando o projecto editorial se decalque e reduz (se é que não desaparece) num projecto meramente partidário. O «contexto sectário» não é desculpa para tanto desnorte e catastróficos resultados, antes é mistificação rasca, invenção delirante para a mais obtusa auto-justificação perante a evidente falta de crédito e adesão às teses que se constata. Aliás, o título da prosa em apreço é o exemplo acabado de sectarismo (do mesmo que acusa os ‘outros’) e menoridade do jornal.

Mas vamos esquecer a prosa laudatória e de circunstância e saudar a Ideia de ‘um jornal’, esperando que este de que falamos sobreviva enquanto for porta-voz de pessoas apostadas em validar as suas ideias e projectos. No fim, os resultados validarão a intenção. Ou então, desejemos que haja quem faça deste jornal, ou de outro, o porta-voz de quem tenha sentido crítico bastante, preocupado em promover ideias e pessoas que sejam alternativas reais, não porque enverguem a camisola do partido, mas porque exibam carácter e preocupação com a coisa pública, marcadas pela inovação nas propostas e credibilidade na acção. Porque colocar um jornal descaradamente ao serviço de uma força política pode perpetuar-lhe a vida mas arruína a credibilidade dos objectivos do jornal que com grandiloquência se proclamam.

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