Ditos há que nos incomodam de longe, que persistem em lançar a sua verdade para lá das circunstâncias em que foram proferidos, que lhe deram a sua substantividade e reconheceram a lucidez ao seu autor. Essas, as circunstância, cansadas que estão de relativizar tudo, retiram-se suavemente para dar vez e voz áquilo que se impõe e que nenhum discurso desculpabilizador consegue contrariar. Os caminhos onde decorre a vida que se leva estão estreitos e difíceis, impõem, se calhar, mais coragem e lucidez que aquelas que a história revela havermos tido. E saber, e um olhar mais prospectivo eivado de inteligência.
Ou será que ainda é verdade aquilo que Eça dizia em 1887?
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Desventuroso Alpedrinha! Só eu, em verdade, compreendi a tua grandeza! Tu eras o derradeiro lusíada, da raça dos Albuquerques, dos Castros, dos varões fortes que iam nas armadas à Índia! A mesma sede divina do desconhecido te levara, como eles, para essa terra de Oriente, donde sobem ao céu os astros que espalham a luz e os deuses que ensinam a Lei. Somente não tendo já, como os velhos Lusíadas, crenças heróicas concebendo empresas heróicas, tu não vais como eles, com um grande rosário e com uma grande espada, impor às gentes estranhas o teu rei e o teu Deus. Jâ não tens Deus por quem se combata. Alpedrinha! nem rei por quem se navegue, Alpedrinha!... Por isso, entre os povos do Oriente, te gastas nas ocupações únicas que comportam a fé, o ideal, o valor dos modernos Lusíadas - descansar encostado às esquinas, ou tristemente carregar fardos alheios...
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Queiroz, Eça, «A Relíquia»
Doutra forma, é o irrecuperável arrependimento e o mergulho suicida em tantos sebastianismos que sempre surgem quando a responsabilidade própria fraqueja e a ambição se diliu na resignação e nos festivos rituais do «bode expiatório».
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